Há um café numa cidade não longe daqui, mas também não perto, onde se joga xadrez. Há caixas e caixas de plástico com peças. Reis e rainhas, bispos e torres. Peões e cavalos. Os tabuleiros estão à mão de semear. E, apesar do atendimento não ser brilhante, porque lento, não faz mal. Porque ali se fica, sem ter pressa, sem procurar olhar para o relógio, naquele hábito quotidiano ou, por vezes, escondido, porque temos de sair para algum lado, ou queremos sair para outro lado.
Mas ali se fica, e joga-se e perde-se, e volta-se a jogar.
E, naquele café, onde ainda se fuma - o que não agradável qando é em segunda mão -, mas, ali, faz sentido, onde se espera e quase desespera por um café, um chá ou uma cerveja, se partilham sorrisos, entre as linhas dos tabuleiros. E cumplicidade.
O café, que fica numa cidade que não é longe, mas também não é perto - mas afinal o que são dsitâncias na realidade? - tem cadeiras de madeira, genuínas, velhas e gastas, mas com o conforto que só as cadeiras antigas conseguem ou pode ter ou assim parecem, porque ali se permanece hora atrás de hora, peão, cavalo, torre, bispo, rainha, rei, quadrado para a frente, para trás, em linha recta ou diagonal... E tem mesas de pernas também de madeira e tampos de mármore. São também antigas e altas, pelo menos para mim. E vou perdendo peça após peça. Até que não sobra nenhuma. Esse café existe, o jogos de xadrez foram de facto jogados. Tudo o resto foi uma ilusão.
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